ARRAIAL DE CANUDOS
Para
cada tempo, existe uma expressão marcada pela sua história. E em nosso sertão
nordestino, o marco está na mais trágica passagem, de uma guerra de interesses
diferenciados com uma violência, comandada pelas autoridades políticas e desmando
dos latifundiários poderosos da época, em combater o que podemos chamar de
solidariedade comunitária.
A tão
famosa “Guerra de Canudos” ficou conhecida pelo conflito armado contra os
sertanejos da cidade de Belo Monte (Canudos), sertão da Bahia, por interesses
militares, a fim de exterminar a aglomeração de pessoas cansadas dos desmandos
dos ricos fazendeiros e do trabalho quase escravo, reuniram-se as margens do
rio Vaza Barris, liderada pelo então beato Antônio Vicente Mendes Maciel,
conhecido popularmente como Antônio Conselheiro, que o povo acreditava ser o
“Messias”, enviado de Deus, para dar conforto os homens injustiçados.
Com a
expressa movimentação de peregrinos refugiados em Canudos, desencantado com o
desmando exploratório nas fazendas dos grandes latifundiários, começou a
incomodar os poderosos. Os coronéis estavam se irritando com os sertanejos que
pareciam viver uma possível autonomia. E essa nova condição de vida, estava não
só incomodando os donos de terras, como também o clero, que de certa forma
venerava esses fazendeiros, pelo poder aquisitivo a que possuíam, e que lhes
interessavam bastante, e que não aceitava que houvesse outro homem, além dos
padres, fazendo pregações religiosas por
contra própria.
Na época houve boatos que o líder dos
sertanejos em Canudos, estava fazendo campanha contra a república e a favor a
monarquia. Não foi tão bem assim, Antônio Conselheiro não era contra a
república, era contra um sistema de governo, onde o regime era a criação de
novos impostos, que não favorecia de modo algum os sertanejos, que continuavam
em situação de abandono pelos poderes públicos. E queria a volta de Dom João ao
Brasil, e não aceitava se modo algum o casamento civil. Mas não foi assim a
interpretação desses carrascos militares. Mas o preso pago pelos homens e
mulheres sertanejos, foi o extermínio de um povo que trabalhavam para o bem
está de todos, em seu ciclo de interesse comum e à prática da paz em
comunidade.
Através
da égide do fanatismo, alguns brasileiros se enfrentaram numa batalha cruel e
desnecessária. De um lado os militares, que obedeciam as ordem dadas pelos seus
superiores, para ir de encontro a todos aqueles que viessem ser contra o regime
republicano e em favor do regime monárquico, e do outro os conselhenistas,
afogados pelos caráter teológico do movimento, sobre a liderança de um chefe
messiânico.
O
reconhecimento de fato trágico da nossa história se caracteriza ainda pelo
abandono dos descendentes da história, mesmo na nova construída cidade de
Canudos. Isso se percebe pela estrutura da cidade em relação a cidades
vizinhas, e na desvalorização da própria comunidade existente no local, tendo
que vir de outros lugares instituições, para aflorar na população o espírito de
luta dos sertanejos mortos em combate na guerra, para lembrar que todo aquele
esforço, não pode ser visto como um esforço em vão. A cidade ainda se concentra
na linha de pobreza extrema, mesmo com a ajuda do Governo Federal, com
programas sociais, como o bolsa família, onde mais da metade da população é
beneficiada, e mesmo assim, a distribuição desse renda não é bem administrada
pelos próprios beneficiários.
Na
verdade, a maior guerra que Canudo enfrenta hoje, é com descaso das então
políticas públicas, responsáveis pelo um possível favorecimento comunitário,
para essa então descendente cidade histórica e marcada pelo sangue de milhares
de pessoas que lutaram pelo um bem comum, consciente ou não, mas que
traumatizou a imagem e a população Canudense.
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