quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Olhar sobre Arraial de Canudos

ARRAIAL DE CANUDOS 
      Para cada tempo, existe uma expressão marcada pela sua história. E em nosso sertão nordestino, o marco está na mais trágica passagem, de uma guerra de interesses diferenciados com uma violência, comandada pelas autoridades políticas e desmando dos latifundiários poderosos da época, em combater o que podemos chamar de solidariedade comunitária.
      A tão famosa “Guerra de Canudos” ficou conhecida pelo conflito armado contra os sertanejos da cidade de Belo Monte (Canudos), sertão da Bahia, por interesses militares, a fim de exterminar a aglomeração de pessoas cansadas dos desmandos dos ricos fazendeiros e do trabalho quase escravo, reuniram-se as margens do rio Vaza Barris, liderada pelo então beato Antônio Vicente Mendes Maciel, conhecido popularmente como Antônio Conselheiro, que o povo acreditava ser o “Messias”, enviado de Deus, para dar conforto os homens injustiçados.
       Com a expressa movimentação de peregrinos refugiados em Canudos, desencantado com o desmando exploratório nas fazendas dos grandes latifundiários, começou a incomodar os poderosos. Os coronéis estavam se irritando com os sertanejos que pareciam viver uma possível autonomia. E essa nova condição de vida, estava não só incomodando os donos de terras, como também o clero, que de certa forma venerava esses fazendeiros, pelo poder aquisitivo a que possuíam, e que lhes interessavam bastante, e que não aceitava que houvesse outro homem, além dos padres,  fazendo pregações religiosas por contra própria.
      Na época houve boatos que o líder dos sertanejos em Canudos, estava fazendo campanha contra a república e a favor a monarquia. Não foi tão bem assim, Antônio Conselheiro não era contra a república, era contra um sistema de governo, onde o regime era a criação de novos impostos, que não favorecia de modo algum os sertanejos, que continuavam em situação de abandono pelos poderes públicos. E queria a volta de Dom João ao Brasil, e não aceitava se modo algum o casamento civil. Mas não foi assim a interpretação desses carrascos militares. Mas o preso pago pelos homens e mulheres sertanejos, foi o extermínio de um povo que trabalhavam para o bem está de todos, em seu ciclo de interesse comum e à prática da paz em comunidade.
      Através da égide do fanatismo, alguns brasileiros se enfrentaram numa batalha cruel e desnecessária. De um lado os militares, que obedeciam as ordem dadas pelos seus superiores, para ir de encontro a todos aqueles que viessem ser contra o regime republicano e em favor do regime monárquico, e do outro os conselhenistas, afogados pelos caráter teológico do movimento, sobre a liderança de um chefe messiânico.
      O reconhecimento de fato trágico da nossa história se caracteriza ainda pelo abandono dos descendentes da história, mesmo na nova construída cidade de Canudos. Isso se percebe pela estrutura da cidade em relação a cidades vizinhas, e na desvalorização da própria comunidade existente no local, tendo que vir de outros lugares instituições, para aflorar na população o espírito de luta dos sertanejos mortos em combate na guerra, para lembrar que todo aquele esforço, não pode ser visto como um esforço em vão. A cidade ainda se concentra na linha de pobreza extrema, mesmo com a ajuda do Governo Federal, com programas sociais, como o bolsa família, onde mais da metade da população é beneficiada, e mesmo assim, a distribuição desse renda não é bem administrada pelos próprios beneficiários.

      Na verdade, a maior guerra que Canudo enfrenta hoje, é com descaso das então políticas públicas, responsáveis pelo um possível favorecimento comunitário, para essa então descendente cidade histórica e marcada pelo sangue de milhares de pessoas que lutaram pelo um bem comum, consciente ou não, mas que traumatizou a imagem e a população Canudense.

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